Sabe aquela máxima de que “EBITDA é rei”? Pois é, majestades, talvez seja hora de uma pequena rebelião.
No mundo corporativo, o EBITDA (Lucros Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização) é frequentemente a estrela do show, o queridinho que todo mundo cita para mostrar que a empresa está bombando. E sim, ele é importante para dar uma ideia da capacidade operacional, desconsiderando o impacto de decisões financeiras e contábeis. Mas, sejamos sinceros, ele é tipo aquele amigo que fala muito, mas na hora de pagar a conta… cadê o dinheiro?
A grande sacada é que o EBITDA, por ser uma métrica de resultado contábil baseada no regime de competência, ignora completamente o capital de giro, os investimentos em ativos (CAPEX), o serviço da dívida e, claro, os impostos. É a contabilidade no seu auge, mostrando lucro no papel, mas sem garantir que a grana está de fato no caixa. Quantas empresas já vimos, com EBITDA nas alturas, que acabaram em recuperação judicial ou falência por pura falta de liquidez? O mercado, tanto global quanto brasileiro, está cheio dessas histórias. Pense em varejistas que, apesar de vendas robustas, sofrem com prazos de recebimento longos e estoques inchados, drenando o caixa. Ou startups “unicórnio” que, com valuations estratosféricos, operam com fluxo de caixa negativo por anos, dependendo de rodadas de investimento para sobreviver.
Se você realmente quer saber se uma empresa está saudável, pare de olhar tanto para o EBITDA e comece a namorar o Fluxo de Caixa. Ah, o fluxo de caixa! Ele, sim, é o verdadeiro herói anônimo. É o dinheiro que entra e sai, o oxigênio que mantém a operação viva, paga as contas, investe no futuro e, pasmem, até distribui dividendos! Estamos falando do Fluxo de Caixa Operacional (FCO), o verdadeiro motor da empresa, que mostra a capacidade de gerar caixa das suas atividades principais. E não esqueçamos do Fluxo de Caixa Livre (FCL), que é o que sobra depois de pagar as contas e fazer os investimentos necessários – esse sim é o dinheiro que a empresa pode usar para crescer, pagar dívidas ou remunerar acionistas.
Uma empresa pode ter um EBITDA lindo de morrer no papel, mas se o caixa está vazio, ela está, na prática, em coma induzido. É como ter um carro superpotente sem gasolina no tanque. Bonito, mas não vai a lugar nenhum. No Brasil, com juros altos e um cenário de crédito que pode ser bem volátil, a gestão do caixa se torna ainda mais crucial para a sobrevivência e expansão. A capacidade de gerar caixa consistente é o que separa as empresas resilientes das que vivem de aparências.
Então, da próxima vez que alguém vier com a ladainha do EBITDA, sorria, acene e pergunte: “Mas e o caixa, meu caro? O caixa está fluindo?”. Porque no fim das contas, dinheiro no bolso é dinheiro de verdade. O resto é conversa para contador (com todo respeito aos contadores, claro!).